- Que que você ta fazendo?
- To coisando uma coisa aqui.
- E como ta ficando?
- Todo coisado...
Muito provavelmente
vocês já viram ou fizeram parte de um discurso assim. “COISA” é tão plural que
só há uma palavra para defini-la: Polissemia. Polissemia vem do grego “poli-” (muito, variado) e “sêma” (sinal, significação, ato, expressão),
i.e, multiplicidade de significados em uma mesma palavra.
Quando
você está com aquele vazio na mente enquanto arruma o carro e te perguntam: “ta
fazeno quê?” Sem sombra de dúvida a resposta será um “to coisando aqui”.
Podemos por analogia ver que a raiz seria “cois-” com vogal temática “-a-” e o
tema seria “coisa” mesmo. Pode-se usar em verbos, substantivos, adjetivos, mas
em advérbios é encontrado com pouca ocorrência.
Coisa
como verbo:
Coisar
pertence à 1ª conjugação, como todos os verbos “inventados”, padrão regular e é
utilizado quando a ação não está clara no entendimento do agente; sinônimo de
mexer e fazer, tem característica de não ser compreendido de pronto pelo
interlocutor, mas causa um desconforto tal que pode fazer com que a pessoa
desista de perguntar novamente ou aumente ainda mais a curiosidade. No futuro
do pretérito e no futuro do presente simples a ocorrência é menos natural e no
mais-que-perfeito é quase inexistente (também quase ninguém usa o mais-que-perfeito
mesmo...)
Aplicação
numa frase:
“Estou coisando o carro.”
“Ele coisou tudo aqui.”
“Vou coisar aquilo ali.”
“Aquele que, quando falava, coisava
tudo?”
Coisa
como substantivo:
Essa
é a mais comum, ou uma das, por se aplicar a qualquer objeto independente do gênero.
A coisa é tão comum que até mesmo seu professor na escola e faculdade
usam para explicar algo que, ou não quer revelar ou não consegue ter certeza do
significado. Gênero feminino e plural em “–s”, paroxítona e significado
incerto, característica principal é poder assumir em si qualquer significação
desejada, mas, assim como com a forma verbal, pode causar um desconforto que faz
com que a pessoa desista de perguntar novamente ou aumente ainda mais a
curiosidade.
Aplicação
numa frase:
“Me dá uma coisa pra apertar
aqui!!!!” (eu sei, pronome átono
não inicia frase... mas isso é língua falada, você não tem tempo e tem que
pedir logo qualquer objeto para apertar... depois você pensa na norma culta
padrão)
“Estou com alguma coisa no dente.”
“A coisa linda e maravilhosa que
você comprou era isso?”
Coisa
como adjetivo:
Assim
como o verbo e o substantivo, ao tentar definir um objeto, mas se sabe as
características do mesmo, a coisa pode ser coisada de várias
maneiras. Ao contrário do que vimos anteriormente, essa aplicação não gera um
desconforto que faz com que a pessoa desista de perguntar novamente ou aumente
ainda mais a curiosidade, o interlocutor entende de imediato do que se trata e
não refaz a pergunta por ter entendido o recado. A coisa como adjetivo é
tão produtiva quanto como substantivo, por vezes aparece “coisado”.
Aplicação
numa frase:
“Aquela mulher é uma coisa...”
“Isso ficou uma coisa.”
“A casa está toda coisada.”
“Aquela coisa coisada ali.” (coisada
está sendo empregada como adjetivo nesta frase)
Coisa
como advérbio:
...
Eu
pensei em algo naturalmente utilizável, mas as produções foram muito “forçadas”,
muito sintéticas, muito coisadas... acho que como advérbio não se
realiza com coisa...
Aplicação
numa frase:
“Ele saiu coisadamente da sala.” (eita...
essa “doreu”)
“Saí coiso...” (OMG)
“Percorri acoisadamente...” (pensei que
podia piorar... pelo visto...)
“Ele é tão coiso quanto ela...” (acho
melhor parar...)
Tudo
isso serviu para mostrar como a polissemia está presente no nosso dia a dia e
nem percebemos, quando o professor fala que “luz” adquire significado de “conta
de luz”, “pão e brotinho” se refere a homem ou mulher bonito(a), ele está
falando dessa coisa que você fica usando sem se dar conta. No Vestibular e no
ENEM, ficar repetindo palavras é ruim e, por mais que possa parecer adequado
ficar repetindo e repetindo as palavras, troque por sinônimos que realmente
tenham a ver com o desejado. Última dica, por mais que pareça óbvio para você,
para os outros uma palavra pode ter significado diferente e aí a coisa
vai pra coisa...
Obrigado e boa leitura.
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